A Origem da Gestão Coletiva, de Ruy Moreira

10/04/2010 12:31

A Origem da Gestão Coletiva

Ruy Moreira

 

A Gestão Coletiva (GC) nasceu do impasse político do 4º ENG em 1980, no Rio de Janeiro. Em si é a expressão do primeiro hiato sério por todos nós percebido entre a nova natureza de nossa entidade saída do Estatuto de 1979 e a realidade institucional e acadêmica da comunidade dos geógrafos. Mas se vem como solução do impasse é porque já estava contida no processo da renovação.

Havia na UFF (Universidade Federal Fluminense) um grupo de estudantes recém saídos do trotskismo para o anarquismo, criador da Seção Local de Niterói, que há tempo propugnava uma forma autogestionária para a AGB. Estes estudantes cumpriram papel fundamental nos resultados da Assembléia Estatutária de julho de 1979 e foram peça-chave na preparação do 4° ENG, realizada em tempo recorde de março a julho, justamente dado a maciça participação estudantil e, portanto, conheciam a nova entidade em toda a sua extensão.

São eles a origem da idéia da Gestão Coletiva. Quando portanto no último dia do ENG tomamos posse da Executiva Nacional da AGB para a gestão 1980-1982, uma solução do impasse de parto desagradável, apenas tiramos do movimento uma proposta que nele já estava posta. Correspondia a uma necessidade coletiva real, e por isto deu certo.

É que para a plenária do 4° ENG o que estava ocorrendo gerando tal impasse, era a constatação na prática de que numa entidade do porte territorial da AGB, a estrutura orgânica e administrativa estabelecida pelo Estatuto, de organização em bases municipais das Seções Locais e encimada por uma Diretoria Executiva Nacional (DEN), sem nenhuma instância por uma Diretoria, abria para a possibilidade da manipulação. Sem recursos financeiros mínimos e com uma DEN composta por oito membros territorialmente dispersos, dificilmente toda esta Diretoria poderia sempre reunir-se em sua totalidade, e por isto tenderia a acontecer da AGB ficar nacionalmente nas mãos de um outro dos seus nomes, num risco de emparelhamento muito grande. Nas duas Diretorias dos mandatos-tampão que dirigiram a AGB no período de 1979-1980, uma em cada semestre, já se pudera notar problemas. A presidência do segundo mandato, inclusive, renunciara, dado problemas internos da DEN. E agora estávamos vivendo esse impasse.

Até a primeira reunião das novas Diretorias (seccionais e nacional) a GC deixara apenas de ser uma idéia no ar. Só na primeira reunião de gestão coletiva (RGC), em Juiz de Fora, setembro de 1980, deu-se sua formulação acabada. Ficou definida como uma filosofia de gestão, antes de mais nada, numa inovação diante do Estatuto, que em verdade foi sua primeira reforma sem contudo alterar-lhe a essência. Seu funcionamento bem diz de seu caráter: antecedendo cada RGC, os sócios de cada Seção Local seriam convocados em Assembléia Local para discutir e deliberar sobre a pauta da reunião nacional enviada previamente pela DEN, tirando-se um delegado para dela participar, levando a posição do coletivo seccional. Com isto, a Gestão Coletiva definia-se como a gestão do coletivo de bases, através daquilo que o Estatuto define, ainda hoje, como o segundo órgão máximo (na verdade o principal) da entidade, logo abaixo da Assembléia Nacional: a Assembléia Seccional. A GC vinha assim, em reforço e na prática, para viabilizar concretamente o que depois da cidadania amplamente igual para todos os sócios era a segunda grande virtude do novo perfil da AGB: autonomia e soberania das Seções Locais. Tanto, que quando alguém associa-se a AGB não o faz filiando-se a DEN (não é uma entidade, mas a Diretoria Executiva Nacional) ou mesmo a RGC (não é uma entidade, mas a gestão coletiva e democrática da entidade em nível nacional pelas Locais juntas), e sim a uma Seção Local, esta sim uma entidade (a AGB, verdadeiramente).

Se, entretanto, a criação da GC trouxe algumas soluções, não deixou de pôr à transparência outros problemas do Estatuto, que só o tempo revelará. Para exemplificar, deixou com função vaga a DEN e burocratizou-se com o tempo ao transformar-se num coletivo das Diretorias, mais que numa gestão coletiva das Assembléias Seccionais. Além do que passou a ter seus próprios problemas, como delegados que passaram a externar opiniões suas e não do coletivo seccional e chegando à RGC em face disso muita vez até despreparado (como raramente tem sido sempre o mesmo, no que evita-se o exclusivismo, o rendimento e coerência não tem sido os esperados das RGCs), o fortalecimento de regionalismos e até mesmo a corroboração com práticas autoritárias com as seccionais, como a do último ENG, de Salvador, de descredenciar (não se encontra a palavra em qualquer artigo do estatuto) Seções, ferindo frontalmente a autonomia e soberania estatutária das Seções uma vez que suas Diretorias subordinam-se em suas ações somente à Assembléia Local, e em caso de necessidade, à Assembléia Nacional.

Desde então, todavia, a iniciativa de 1980 vingou como uma forma de garantir-se o fim que se pretendeu em julho de 1979 de uma entidade democraticamente de massa da comunidade da Geografia. Todas as Diretorias seguintes, seccionais e nacionais, reiteraram-na como forma de gestão nacional da AGB, chegando a ser, no 7º ENG em junho de 1988 em Maceió, incorporada estatutariamente (aumentando o quadro de problemas de construção interna do Estatuto), fazendo parte nesses mais de dez anos tão naturalmente da vida de nossa entidade que mesmo nos esquecemos que tem uma história e que hoje, na antevéspera de nova reforma estatutária, vale a pena lembrarmos.

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